domingo, 2 de agosto de 2009

Uma das mais lindas portas de entrada na cidade. Não me canso da fotografar, mas não queria ver aquele sinal. Mas ele continua sempre olhando ostensivamente para mim, sem vergonha, provocando-me. Apetece-me arranca-lo e libertar aquele espaço do malvado abcesso.

2 comentários:

  1. E TENS TODA A RAZÃO CARRAPATO !
    ABAIXO O SINAL ! A BELEZA É PARA SER FRUIDA SEM ABCESSOS !
    ABRAÇO !

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  2. A PINCELADA - Amo esta cidade que é nossa, e ainda que passe a vida a apontar-lhe defeitos, não significa que a ame menos. Pelo contrário, se defeitos lhe aponto é porque me dói no coração pelo que por ela não tenha sido feito. Sou boa observadora, pelo que pouco me escapa, um buraco aberto há demasiado tempo por tapar, uma fachada por cuidar ou caiar, a quem se arroga quase que o direito de paternidade sobre o nosso património monumental, não fica bem este tipo de exemplo, uma coisa é a pátine natural da pedra, outra que ela patine por falta de mão amiga que a proteja. Adoro as Portas de Avis, e aquela parte da muralha que dela partindo, se estende para os campos universitário e do Seminário, toda ajardinada e normalmente bem cuidada. No lado fronteiro, e em rampa que termina nos domínios de uma velha igreja em derrocada, (nunca percebi porque ninguém a recuperou), passei muito do meu tempo de menina e moça, pois era esse o meu lugar de encontro e de namoro. Sentados, quando não deitados nesses relvados, eu e meu marido construíamos há trinta anos castelos de sonhos, castelos que viemos a erguer, nuns casos, castelos que ficaram por edificar noutros, já que à imaginação e ao sonho tudo é permitido, menos tornear a dura realidade da vida. É que a Porta de Avis tem algo de mágico e profano, de espiritual e sagrado, já que apesar de construída no Séc. XV, com materiais da antiga muralha Romano-Goda, sobreviveu à ruína dos anos de oitocentos, quando os muros esventrados dessa mesma muralha serviram de pedreira aos construtores civis de então. Em 1525 viria a Porta de Avis a ser sobrepujada pela Ermida da Sr.ª do Ó, de quem sou devota, e em virtude da visita da Rainha D. Catarina de Áustria. Lugar de eleição, lugar predilecto, mesmo depois de casada ali passaria muitos dos meus tempos livres em alegre fruição, ou conjecturando projectos, carreiras, opções. E quando a vida me obrigava a escolher, quando essa vida obrigava à reflexão, era ali a céu aberto o meu, nosso, lugar de recolhimento, de retiro. A Porta de Avis, era assim como que uma porta aberta ao devir, ao céu, que só o presente, permanente e engarrafado trânsito me roubaram, ou fecharam. Como disse um dia Pope; “ é a brutalidade do destino”, e queira o destino que a rotunda da Porta de Avis venha um dia a ter uma escultura, já agora preferencialmente de artista eborense, animando as frescas noites de verão, e os que por ali sonham, olhando as estrelas, como eu o fiz, menina e moça. Pois na semana passada os meus olhos luziram de alegria. Ao passar na dita rotunda dei de caras com uma pincelada digna de mestre na ditosa Porta de Avis. Não sei se alma bondosa preparando o Stº António, ou a edilidade num rebate de consciência, o certo é que foi retocada, pintada ou caiada com desvelo, numa atitude digna de nota e louvor. Imaginem agora se toda a nossa cidade fosse, tivesse sido, tratada igualmente com tal desvelo, com tal cuidado, com tal carinho. Será que quem governa a cidade nunca se sentou ali à Porta de Avis, na relva fresca, sonhando o quanto pudemos fazer por Évora? Experimentem e verão que não lhes faltarão nem motivos nem projectos para esta terra. Por mim faço-vos uma confidência, tenho projectos de vida, gizados ali mesmo há trinta anos, esperando o tempo e a hora de se concretizarem, uns envolvendo netos, outros passeios à Lapónia, olhando o sol da meia-noite em trenós puxados por renas, outros, outros, outros...tantos, sei lá, só sei que o sítio é mágico o nos dá vida e alento para muitos anos. Bem-haja quem deu na Porta de Avis aquelas pinceladas milagrosas, quem tratou o meu cantinho, nunca para ali fugi para esquecer o mundo, mas para procurar respostas, para me encontrar com ele e comigo mesma. (excerto de publicação no Diário do Sul ) PARABÉNS JOAQUIM ALBERTO ! IMORTALIZASTE O "MEU CANTINHO" !!!!!!

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